Gatinhos? Adoroooooooooooo

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Hora da Boa Leitura!!!



Dr. Paulo Pereira da Costa tem como estrela-guia a INSPIRAÇÃO!

Suas crônicas, contos, todos inspiram o amor, a pureza, a amizade...
Fico muito lisonjeada de poder contar com a crônica que ele acaba de me enviar, para fazer parte aqui do Blog!
Na verdade ele não disse que eu poderia publicar ela aqui, kkk, mas malandra que sou e nem um pouco egoísta, quero compartilhar com todos :)

Abaixo uma de suas "inspirações"!

MUITO OBRIGADAAAAAAAA DR. PAULO!

LILI E EU

Não consigo lembrar-me em que mês de 1978 apareceu Lili, uma cachorrinha SRD e sem pedigree, ou seja, uma autêntica vira-lata de pelagem marrom clara, que veio trazida ainda filhotinha por uma das minhas irmãs.

Chegou ressabiada, assustadiça, como seria de se esperar de um animalzinho indefeso, recém-separado da mãe, quiçá, de irmãos. Mas não demorou para vencer a carência materna e logo adaptou-se à nova situação, ao novo ambiente, cresceu e tornou-se parte da família.

Com sua docilidade, conquistou a todos. A mim, especialmente. Quando eu chegava, ela pulava em mim, fazendo festa, como se fosse me abraçar. Só que suas patas estavam sempre sujas, pois ela vivia na terra. Para ela não lambrecar minha roupa, eu segurava erguidas as patas dianteiras dela, uma com cada mão, ficava assim um pouco, depois as apoiava no meu antebraço esquerdo e afagava-lhe a cabeça com a mão direita. Ela recolhia as orelhas e deleitava-se, gostava dum cafuné.

Nas horas vazias do meio da tarde, quando todos da casa estavam trabalhando, Lili perambulava sossegada, visitava quintais vizinhos sem muros – era um tempo de poucos muros – , cavava buracos na terra para esconder sei lá o quê, corria latindo atrás de algum carro que passava – era um tempo de poucos carros – e depois voltava e postava-se à sombra do abacateiro, sobre as pernas dobradas. De lá, boca aberta, língua caída, observava as galinhas, ficava vendo a redondez do mundo, considerando tudo em volta de acordo com sua perspectiva canina, ouvindo os pardais e as tagarelices do louro palrador, até pesarem os olhos, os barulhos ficarem distantes, e então ela deitava de lado e cochilava.

Durante o sono, às vezes erguia num repente a cabeça e abria os olhos, como se acordasse, talvez por ouvir algum daqueles sons que só os cães ouvem, mas, tomada pela indolência, dava um longo bocejo, deixava cair devagar a cabeça, fechava os olhos e voltava a dormir gostoso.

Os cães são descomplicados, inteligentes o suficiente para não procurar sentido para a vida em coisas sem sentido. Não sentem necessidade de ser o centro do Universo, só querem apreciar tudo em volta. Alegram-se se têm motivo para alegrar-se, ficam tristes se é caso de tristeza. Simples assim. E quando demoramos para chegar, maior a alegria deles ao ver-nos. Não fecham a cara, não emburram, não têm crise existencial, desejam apenas matar a saudade.

Não reclamam exclusividade, mas gostam de carinho, de que conversemos com eles, gostam de que lhes demos de comer, de que os levemos juntos aonde vamos. Adoram espaço, liberdade. Fazem pipi nos pneus dos carros, nos postes, em qualquer superfície vertical onde possam apoiar erguida uma das pernas traseiras. E quando se encontram, dois ou mais, apresentam-se uns aos outros naquele ritual de recíproco bumbunfarejo (James Joyce está se revirando no túmulo!).

Tudo ia bem, mas em março de 1984 Lili contraiu ascite, teve um enorme inchaço abdominal, aquela barriga d'água, e deixou de ser a criaturinha elétrica e saltitante. Ficava deitada num cantinho da varanda, sem forças para suportar o peso do próprio corpo. Eu a acariciava e o máximo que ela conseguia era esboçar alguma vivacidade no olhar e fazer um débil movimento com o rabo. “Lili, como deixei você ficar assim? Onde eu estava? Será que me ensimesmei além da conta, que me preocupei só comigo e me esqueci de você?”

Fui ao veterinário. Relatei ao Dr. Alceu o estado dela. Ele veio vê-la. Aliviou-a do líquido que ela tinha na barriga, mas disse que talvez ela não suportasse porque provavelmente alguns órgãos internos estivessem já inoperantes. Livre do peso abdominal, Lili conseguiu ficar em pé, e então vi o quanto estava magra.

No dia seguinte levantei cedo e fui correndo à varanda, esperançoso de encontrá-la melhor. Ela, porém, já não era deste mundo. Jazia fria e rígida.

Fui para o trabalho, triste, sentindo-me vazio. O Guin, notando-me caladão e amuado, perguntou-me o que havia acontecido. Contei-lhe e ele mostrou consternação; ficou em silêncio, como que compartilhando comigo o pesar, e disse por fim: “é, a gente pega amor nesses bichinhos...”.

Levou um tempo para eu me acostumar à ausência da Lili. Quando me dei conta do irreversível da situação, percebi que podia continuar a vê-la.

Se antes eu a via com os olhos abertos, agora precisava fechá-los.

Assim a via andando comigo pelo quarteirão, correndo ao meu encontro, deitada ao meu lado. Via-me dando banho nela, passando-lhe o talco carrapaticida, abrindo-lhe à força a boca para dar-lhe o vermífugo, via-a pulando e abocanhando no ar pedaços de pão que eu lhe atirava, deitando-se de barriga para cima para eu fazer-lhe cócegas...

Lili partiu à noite, quando infinitas estrelas brilhavam no céu.

O corpo descansou, livre das dores; a alma foi para onde habita a pureza.

Paulo Pereira da Costa, promotor de Justiça e autor do livro “Pensando na Vida”, paulopereiracosta@uol.com.br

4 comentários:

  1. Só quem tem, teve, amou e ama os animais, sabe que amor é esse ;)

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  2. Amiga Monica:

    Lindíssima esta crônica que vc compartilhou com a gente.

    Tive um cachorro na adolescência, que quando ele morreu, fiquei com febre, frio, em pleno mês de dezembro, verão.

    Quando eu pegava pequenos pedaços de algum alimento e me abaixava para dar ao Moleque (era o nome dele), eu percebia que ele não estaria mais lá e chorava, chorava muito, eu tinha 18 anos, nunca esqueci o sofrimento que foi ficar sem meu cachorro.

    A dor não tem medida, passa aos poucos com o tempo, outro dia fui à Sampa, encontrar com minhas irmãs lembrei de nosso cachorro.

    Ele ficará para sempre em minha lembrança.

    Bjs Beth

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  3. Beth, eu nunca esqueci cada bichinho que passou na minha vida e espero com fé em Deus que exista um lugar onde depois que eu me for daqui, possa reencontrar com todos eles! Obrigada por vir :)
    Beijoca

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  4. Esse comentário recebi em mail mas não resisti e preciso publicar aqui!

    Lá vai Dindinha! kkkkkkk

    Que lindo, Monica! Dr. Paulo é mesmo uma pessoa inspirada, sensivel, inteligente. É uma honra você tê-lo como companheiro. Parabéns! Você conquistou uma brilhante amizade. Coloquei-me no lugar dele, pois quando a Bolinha morreu aconteceu algo semelhante comigo: chorei uma semana! As lágrimas escorriam contra minha vontade. Os cães tem esse poder de se fazerem amados. Beijos
    Bel

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